Uma questão de princípio
Por Elika Takimoto
Pensei muito se deveria falar sobre isso já que tenho evitado escrever nomes e dar ibope para fascistas. Mas, neste caso, resolvi fazê-lo. E, pior, sair em defesa de uma.
Para quem não sabe, ontem, no Troféu Imprensa, Silvio Santos repreendeu, ainda que em tom de "brincadeira", Rachel Sheherazade por seus comentários e críticas a políticos em seus programas televisivos. A mocinha em questão é a musa do fascismo midiático.
Sheherazade representa a voz reacionária, conservadora e fundamentalista desse país. Ficou conhecida por usar a bancada no telejornal “SBT Brasil” para reforçar estereótipos e atacar princípios constitucionais como a laicidade do estado e flertar de forma escancarada com o fascismo. A mulher é tão indigesta que até o Sindicato de Jornalistas do Rio de Janeiro já divulgou uma nota de repúdio contra o "jornalismo" que ela pratica.
Enfim, jamais pensei que faria isso, hoje venho defender Sheherazade, pois meu (até ontem) queridíssimo Silvio Santos chamou a atenção dela na entrega do troféu que ela ganhou de melhor jornalista (oh senhor como pode isso!?).
"Você não consegue falar uma frase sem se meter em política? Vai se candidatar a algum cargo? E por que se mete?", disse Silvio Santos complementando e frisando que o canal dele era de entretenimento.
Fiquei pensando se para falar sobre política tem que ser candidato a alguma coisa. No mais, política é algo tão conectado com tudo que não falar sobre ela é uma forte postura política. Mas continuemos...
Se não fosse pelo tom de chefe ameaçador feito a Sheherazade, vibraria por ele mandar que ela calasse a boca, não emitisse mais opinião alguma e somente desse a notícia. Isso seria um serviço para a humanidade. Mas a minha filosofia de vida não me permitiu uma dose de felicidade ao ver Sheherazade sendo humilhada pelo patrão. Pelo contrário. Luto para que ninguém passe por isso, que nenhum trabalhador seja tratado dessa forma e que todos os seres humanos sejam respeitados. Ontem, Sheherazade e Silvio Santos representaram bem a relação operário-empresário.
Pasmem. O pior não foi isso. Silvio Santos depois de ouvir Sheherazade sem graça dizendo, "Mas quando você me chamou foi para dar a minha opinião", ele respondeu: "Não. Eu te chamei para você continuar com a sua beleza, com a sua voz. Foi para ler as notícias, e não dar a sua opinião. Se quiser dar sua opinião compre uma estação de TV e faça por sua própria conta".
Sheherazade que dentre tantas coisas absurdas também é contra o feminismo sofreu o que nós, feministas, lutamos para que nenhuma mulher sofra: o eco do patriarcado e o assédio moral. Ouvir que só foi chamada para o cargo por causa de sua beleza e ser proibida de dar a sua opinião é o inferno em que milhões de mulheres no mundo todo vivem.
Doeu. Doeu bem fundo. Porque esse "mexeu com uma, mexeu com todas" é todas mesmo. Até quem faz apologia à violência e fere diariamente os direitos humanos.
Não podemos aceitar esse tipo de discurso mais. Venha de quem for direcionado para quem quer que seja.
Foto: UOL TV e Famosos