O PODER DA CELEBRIDADE
Por Francisco Guil
O cidadão letrado, que se considera dono de opiniões originais e até contundentes, de repente vê-se de olhos arregalados diante de um velho ator de comédia na fila do aeroporto. Gosta que a fila não ande para ficar o maior tempo possível perto do seu ídolo, como se a aura do ator o cobrisse por um instante e o deixasse permanecer nesse ambiente luminoso do mundo das celebridades.
É fácil atribuir aos meios de comunicação de massa o poder de provocar um vazio mental no espectador diante das celebridades. Mas o desejo de conhecer pessoas famosas e a capacidade de ficar abestalhado diante delas remonta às primeiras civilizações.
Os súditos atribuíam aos reis uma qualidade divina porque ele detinha esse carisma extraordinário que pode hoje ser reivindicado por um atorzinho de novela ou um jogador de futebol: são seres inatingíveis, que vivem acastelados, raramente são vistos pessoalmente e o mundo fala deles o tempo todo. Somente criaturas vindas do etéreo, do mundo mágico, poderiam ter esses poderes. Pois o homem comum, seja ele um letrado ou um completo ignorante, com certeza não os tem!
Os cantores de música ruim fazem lotar estádios, como outrora o faziam os grandes artistas. Mesmo os universitários, a nata da elite intelectual, que se pensavam intelectuais e deixavam balançar os corpos ao ritmo da bossa nova, agora cantam e dançam os ritmos mais prosaicos. E com isso se satisfazem, pois, lá no alto do palco está a celebridade. O famoso cantor pode estar miando feito um gato escalpelado, cantando uma melodia medíocre e uma letra ridícula, mas quem poderá afirmar que o que a celebridade fez é menos que uma joia?
A adoração da celebridade alcança dimensões ainda mais impressionantes quando o adorado é um bandido famoso, seja ele um ladrão, sequestrador ou traficante. No princípio, quando ainda não angariou fama, suas ações provocam repulsa. Mas o desencadear de novas ações criminosas, novas prisões e fugas, consagram o bandido como um bandidão, uma verdadeira celebridade. Políticos seriam capazes de posar ao lado dele para angariar a simpatia popular, se a hipocrisia popular não o condenasse pela ousadia. Mas se o bandidão aparecer em seu bairro, o cidadão comum será capaz de abraçá-lo, oferecer-lhe cama e comida e pedir autógrafo para a filha adolescente!
Pela mesma razão, os olhos do público brilham na presença do político corrupto que ganhou notoriedade por suas falcatruas. Seus fãs sentem desejo de tocá-lo, querem sentir o calor de sua presença. E se o rombo nos cofres públicos foi gigante, e se o peculador ganhou as manchetes dos telejornais, os fãs serão capazes de comê-lo vivo, como fizeram na França com um serial killer chamado Grenouille, que foi devorado por exalar um perfume excessivamente sedutor.