O FLUXO DO PENSAMENTO COMUM
Por Francisco Guil
Você acredita na sua personalidade. Vê-se como pessoa inteira, completa, e seu mundo parece perfeito. Raras vezes se pergunta se são verdades as crenças instaladas em sua cabeça. A moral da sociedade em que você vive não permite a discussão aberta. Para viver sossegada (o) você deve acreditar no que a sociedade diz, fazer o que a tradição manda fazer, mesmo quando isso resulta em sofrimento íntimo.
Mas alguma coisa em você sente que deve tirar a cabeça para fora do ovo, olhar além da escuridão da caverna, buscar uma nova forma de luz. E o que você faz, quando sente esse impulso? Salta para o mundo desconhecido, onde poderá encontrar grandes e admiráveis tesouros, ou recolhe-se novamente para as sombras. Apesar de não lhe trazerem grandes alegrias, elas também não representam grandes perigos! A história da sua cidade acontece na forma de um fluxo constante de pensamento.
As coisas consideradas certas e “morais” foram construídas ao longo das décadas e dos séculos e não podem ser facilmente afrontadas. Não porque sejam certas e irretocáveis, mas porque ao mexer nas estruturas mentais de uma comunidade você estará colocando em perigo aqueles que se aproveitam da situação instalada. E a experiência mostra que a situação instalada se alicerça na ignorância e no sofrimento da maioria dos cidadãos.
Uma parcela muito pequena da comunidade repousa em berço esplêndido, amparada pela certeza geral de que as leis que regem a cidade são inquestionáveis. E muitos que se consideram privilegiados, os do segundo ou terceiro escalão, embora saibam das humilhações que passam, não largam o osso, por medo de descer mais alguns degraus.
No momento em que você acorda para a realidade de que os poderes constituídos foram instalados para manter uma minoria numa escala socioeconômica avantajada, surgem algumas opções: 1 - Você passa a combater esse sistema; 2 - Você começa a lutar para beneficiar-se das centenárias falcatruas que alimentam o modelo socioeconômico instalado; 3 - Você tenta ficar indiferente. Seja qual for a sua decisão, essa nova forma de lucidez vai mudar completamente a sua vida.
No caso 1, você passará a adquirir os mais extraordinários conhecimentos, que jamais imaginou possuir. E sentirá as dores mais terríveis, na constatação quase inacreditável do domínio humano sobre outros humanos, alicerçado na mentira. Mas colherá alguns frutos de qualidade e sabor apreciáveis no campo de batalha, que farão você pensar que “tudo valeu a pena, porque a alma não foi pequena”.
No caso 2, você aprenderá a pisar sem piedade naqueles que se deixam dominar, seguindo o exemplo daqueles grandes que desta forma se elevaram. No caso 3, você precisa se retirar imediatamente da sociedade humana, passando a morar numa floresta ou numa ilha. Pois nenhum ser humano lúcido pode viver sossegado numa sociedade hipócrita e excludente, como a que temos aqui, no Brasil, ou em qualquer lugar do mundo. Se você tem um coração, vai senti-lo doer por todas as dores humanas. Se você não tem um coração, você já está morta(o)!
Foto: Capixabão