NOME OU "SOBRENOMES" NÃO IMPORTA, O QUE IMPORTA É A IDENTIDADE
Por Ana Paula Romão
Sinto muito em decepcionar pessoas que se apegam a "brasões" familiares. Enquanto educadora instigo a problematização de um currículo não eurocêntrico e isso não significa pegar uma tesoura e retirar a Europa dos mapas, como alguns dos idealizadores da Escola sem Partido já propagam.
No Brasil, o caldo cultural aristocrático adveio da distribuição de títulos "nobres" como os que foram distribuídos com o intuito de engenhar uma elite casta: conde/condessa, marquês/marquesa e inúmeros brasões familiares. A casta não vingou, mas o status pelo "sobrenome" como algo que aproxima do título de "nobreza" se disseminou e continua mais vivo do que nunca. Herança braba da Casa Grande.
No entanto, os estudos genealógicos no Brasil pouco avançaram e quase não se tem como se saber se um sobrenome atual mesmo que de origem europeia seja ou não europeu. Isso porque em determinados períodos históricos não se sabe se o "sobrenome" veio de linhagem ou foi incorporado por vontade pessoal, homenagem a terceiros etc.
Sinceramente, não sei se meu "Romão" veio de inspiração dos "lordes" plantadores de Romãs ou foi adotado por inspiração religiosa. Se meu "Ferreira" segue uma linhagem ibérica ou em homenagem aos ferreiros da beira do Rio Sanhauá. Se sou uma mistura de Padre Cícero com Lampião, também não sei. Trabalho a minha identidade cultural pela forte presença cabocla das raízes familiares materna, meu lado indígena! Embora saiba que a mistura étnica seja grande em minha família, a cabocla prevalece!
E no Brasil quem não tem a mistura das três raças? O sobrenome de maior alcance é "SILVA", que no português arcaico significa SELVA , provavelmente, os indígenas e ou africanos cristanizados pelos jesuítas tiveram em seus "novos" batistérios o mais genuíno de todos os brasões. Sim, assim como nosso ex-presidente, toda e qualquer pessoa de sobrenome SILVA carrega em si a essência de um tipo diferenciado de brasão. O brasão genuinamente brasileiro.
Uma das marcas da nossa resistência. E quantos de nossos afro-brasileiros possuem linhagem de nobreza e realeza? Inúmeros. Por isso, digo sempre: Viva os povos das florestas, os povos quilombolas, os povos das SELVAS. O nosso SILVA BRASIL. Viva todo e quaisquer outros sobrenomes. Viva a(s) identidade(s) cultural (is) e a identidade com o que nos une na luta por um país da diversidade. Viva Luís Inácio da Silva, Viva ao POVO brasileiro.
Foto: EBC