Lula é meu herói
Por Marinês Lazzaron
Lulinha, meu amor. Ao se falar sobre o Lula, não tem como deixar de falar da gente, porque ele tem se esse dom de ser do povo, da vida e do sonho de todo mundo que trabalha e vive sob essa base cruel da pirâmide capitalista. Falar do Lula é lembrar-se da família da gente, cercando a mesa nas festas costumeiras. E não tem como se lembrar dele e deixar de lado um ideal de esperança, de paz, de igualdade.
Aquele homem nanico, de voz potente, mas de olhos mansos e perscrutadores é o símbolo de tudo aquilo que o povo trabalhador mais preza: seu lar, sua família, sua mesa e sua paz. Diante de tanta coisa absurda que o mundo impõe, Lula traz um alento para todos nós, classe miserável, explorada e enganada pelos donos dos meios de produção. Ele diz uma coisa que cada pobre devia nascer sabendo ou que nasce sabendo, mas nega por medo e por descrença: Todos somos iguais e temos os mesmos direitos.
Eu era criança, mas mesmo pequena, naquele alvoroço tremendo de eleições diretas depois do silêncio e obscuridade da Ditadura aquele cara barbudo, sujeito assim meio grosseiro em seu falar, dizia isso sem medo de empresários, latifundiários, reacionários e tantos “ários” que vivem da exploração dos que vendem a sua força de trabalho. Enquanto tantos outros, com seus bonitos e elegantes ternos e discursos demagógicos, abrilhantados e dissimulados pelas luzes feiticeiras da grande mídia, prometiam firulas, circo e pão; o Lula era curto e grosso: Povo quer casa, quer justiça, quer escola, quer comer, quer viver... viver, veja bem.
E eu lembro muito bem quando meu irmão soube daquela primeira vez, que a esperança tinha acabado e chorou as lágrimas amargas dos que tem aquela fome que nunca se sacia, a fome da justiça. Mas precisaram quase vinte anos para que a grande massa aprendesse de onde poderia vir essa justiça tão desejada. Até por que o povo brasileiro é assim: precisa ter a cara arrastada no chão e engolir o próprio vômito para ver a verdade. Precisa que vendam seu patrimônio mais valioso bem debaixo de seus narizes. Precisa que se sugue até a última gota de seu sangue e que seja deixado na condição de uma quase indigente, sem nome, sem destino e sem nada.
E ela veio no formato daquele cara baixinho da voz rouca e de modos agora mais tranquilos para não ofender os repórteres de cara engomada e língua mentirosa. Veio na vitória do operário, da mãe que nunca tem pão suficiente para seus filhos, do pai que não sabe como vai comprar aquele remédio que o “dotô” receitou, na vitória daquele jovem sem esperança de cursar uma faculdade. E eu chorei de alegria porque eu sabia que de alguma forma aquelas notícias que a gente via na televisão iriam mudar.
Me era intragável imaginar que mais alguma criança fosse morrer de fome, de doença, de frio e de pobreza. Não sou fanática nem idolatro ninguém, mas eu sei diferenciar algumas coisas. Lula é único beija flor entre um bando de urubus carniceiros. Com Lula não tem frescura. Ele sua, ele ri, ele bebe, ele come espetinho de gato, é amigo do Danny Glover (<3), é admirado pelo Bono, o Obama diz que ele “é o cara”, ele tem filho fora do casamento, ele fala “nóis” e muitas coisas ainda mais simples e comuns, mas que o tornam tão maravilhosamente único e tão próximo da gente.
Na verdade, o único defeito do Lula é torcer pelo Corinthians, mas isso é algo perdoável quando a gente lembra que ele tem a maior torcida do Brasil, tanto a favor como contra. E mesmo assim ele é odiado pela mídia e eu sei por quê. Mesmo ela sendo tão poderosa, ele conseguiu vencê-la. E por três vezes consecutivas. Lula é meu herói. E vai vencer de novo. Mesmo que novamente o povo brasileiro, por mais alguns anos, tenha que arrastar a cara no asfalto de outra vez e novamente se reduzir a grande massa pisoteada pelo sistema, sobrevivendo dos próprios e indefectíveis dejetos.
Aquele velhinho de barba cinzenta com a camisa suada debaixo do sovaco é nosso último fiozinho de esperança, antes que a democracia seja banida e o Brasil se torne um grande buraco privatizado e terceirizado, aonde os países mais ricos vêm jogar sua sujeira e violentar nossas mulheres e crianças.
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