GUERNICA
Por Luiz Francisco Guil
A crise ética brasileira está gerando aberrações extraordinárias, cenários para grandes obras de arte, como foi a Guernica para a Guerra Civil Espanhola.
Como disse um certo poeta modernista dos tempos do Temer, a arte é como as flores do campo, que crescem mais sobre os montes deixados pelas vacas.
Lembra da revista Veja estampando na capa a cara do Collor como herói? Pouco depois Collor foi impitimado.
Lembra da Veja estampando na capa a cara do Demóstenes Torres como herói? Logo descobrimos que Demóstenes era pau mandado do Carlinhos Cachoeira.
Lembra da Veja estampando na capa a cara do Cunha como herói? Cunha está agora na cadeia.
Lembra da Veja estampando na capa a cara do Aécio como herói? Depois o Brasil viu Aécio pedindo R$ 2 milhões em propina pro Joeslei.
Lembra da Veja estampando na capa a cara do Moro como herói? Agora temos o envolvimento da esposa do Moro com um doleiro relacionado à Odebrecht.
Dá para criar obras fantásticas com as aberrações da Veja. Mas não, tudo isso não é poético, nem artístico, nem engraçado. É tudo profundamente triste, lamentável, desalentador!
Nos últimos dias a Lava-Jato empilhou R$ 4 bilhões em notas falsas de R$ 100,00 numa praça de Curitiba, dizendo ser esse o valor recuperado pela "Operação". Essa auto-publicidade dos homens públicos é um mal quase tão nocivo quanto a própria corrupção. Somente porque são promotores públicos devemos dar aos agentes da Lava-Jato o direito de expor todo o volume do seu serviço, atravancando a praça e criando comoção nacional?
Imagine se cada funcionário público que cumpre o seu papel decidisse fazer exposição na praça! A moça do xerox levaria 20 milhões de cópias feitas em 10 anos de serviço! O tratorista, 20 mil toneladas de terra! O lixeiro descarregaria na praça central 365 caminhões cheios de lixo! As faxineiras varreriam toda a sujeira das repartições públicas nas ruas para o povo ver e aprovar o serviço!
Ou teremos de admitir que o trabalho dos funcionários da Justiça é mais importante que o das faxineiras, dos tratoristas, dos lixeiros e da moça do xerox? Extinga somente uma dessas profissões e veja se o serviço público não paralisa após uns poucos dias!