EM DIA DE JOGO DA COPA
Por Igor Grabois
O Brasil é grande nos mais diversos sentidos do termo. Existem cinco países que estão, simultaneamente, entre os dez maiores PIB’s, territórios e populações. O Brasil é um deles. O maior país africano fora da África, só a Nigéria é mais africana que o Brasil. O maior país latino do mundo, nos dizeres de Darcy Ribeiro, herdeiro político e cultural do império romano.
Aqui se fixou a maior colônia japonesa fora do Japão. Somos o país da maior imigração sírio-libanesa. O mesmo vale para os italianos. Somos tão espanhóis quanto os nossos irmãos sul-americanos. Gente de todo lado veio pra cá. Alemães, poloneses, suíços, russos, coreanos. Mais estão a chegar: chineses, indianos, haitianos, bolivianos. Uma nova imigração de vários países da África chega, dessa vez voluntária, que pode fazer com que reencontremos o grande continente do outro lado do Atlântico Sul.
Os judeus aqui encontraram paz após o holocausto. As culturas ameríndias teimam em resistir, apesar de todo o massacre. O povo do Brasil nunca se furtou à solidariedade, às causas democráticas do mundo. Não hesitou em ofertar o sangue de seus soldados, aviadores e marinheiros na luta contra o nazi-fascismo.
O Brasil promulgou em 1988 uma Constituição, reconhecidamente a mais avançada do mundo. Essa Constituição não foi dádiva de uma elite ilustrada ou de doutos debates parlamentares. Foi legado de 21 anos de luta contra uma ditadura cruel, em que o povo brasileiro procurou se reencontrar consigo mesmo. Nela há objetivos em que avançamos, mas que o golpe de 2016 pôs em suspenso. Saúde e previdência universais, integração latino-americana, educação pública e de qualidade.
Em Campinas, há um acelerador de partículas de classe mundial, o Laboratório Nacional de Luz Síncotron. Projeto e tecnologia brasileiros, executado por técnicos brasileiros. A Petrobras desenvolveu tecnologia de exploração de petróleo em águas ultra-profundas. Essa mesma a Petrobras, que a mídia reputa corrupta e falida.
Temos capacidade reconhecida nas áreas nuclear, espacial e de informática. Poucos países podem afirmar isso. Fruto de um sistema de pesquisa científica que estava em plena expansão até 2015. Poucos brasileiros conhecem esses fatos. A internet no Brasil é acessada em português, com todo o monopólio do Google e do Facebook. A música ouvida é em português. O mesmo português falado de norte a sul, com as suas nuances e particularidades.
Uma amazônida pode se sentir em casa na serra gaúcha.
Nossa cultura é vigorosa. É vigorosa porque é brasileira e ao mesmo tempo universal. O conceito da antropofagia de Oswald não é um mero truísmo. A cultura francesa se tornou a nossa cultura. A cultura estadunidense se tornou a nossa cultura. O funk é carioca e ganhou alguma batida do samba. Esse cadinho de culturas permite que o Brasil fale para chineses e europeus, russos e americanos. O Brasil forte é fator de equilíbrio nas relações internacionais e contribui para a paz mundial.
Somos o país de Oscar Niemeyer, Portinari, Di Cavalcanti. De Pelé, Garrincha e Nilton Santos. De Maria Esther Bueno, Ademar Ferreira da Silva, Emerson Fittipaldi. De César Lattes, Mario Schemberg, Mario Novello. De Carlos Chagas, Zerbini, Miguel Nicolelis. Machado de Assis é o maior escritor do hemisfério no século XIX. Villa-Lobos, Egberto Gismonti, Carlos Gomes. Do padre Landell de Moura, Santos Dumont e do almirante Othon. Celso Furtado, Paulo Freire, Milton Santos. A lista é interminável, qual seja a área de atividade.
Um governo que assumiu por um golpe de estado coloca esse grande país de joelhos. Tudo está sendo alienado, as empresas, os direitos do povo, o petróleo do pré-sal, nossa força de trabalho. Essa situação é por demais humilhante para os brasileiros. O Brasil sumiu na política internacional e é desacreditado pelo seu próprio povo.
O país não pode ficar refém da especulação financeira, dos Lehman, dos Setúbal e Moreira Salles da vida. O país é muito grande, muito diverso. Temos de honrar o suor e o sangue dos que nos precederam, construíram esse país grande e diverso, contraditório, poucas vezes democrático, mas que deixa uma contribuição no devir da humanidade.
Virar esse jogo é dever de todos os brasileiros que aqui fizeram a vida e aqui se fizeram pessoas humanas. Amar esse país é buscar o progresso, a convivência democrática. Temos o desafio de garantir cultura, saúde, dignidade, trabalho para o nosso povo. Isso tudo só será reconquistado com luta.