Brasil: afinal, o AI-5 já voltou?
Por Célia Zerbato
O cenário do Brasil pós-golpe prenuncia a morte da nossa púbere democracia. O apeamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, sob justificativa jurídico-legal suspeita, e a ascensão daquele que não quer ser chamado de golpista, Michel Temer, ressonaram em significativas manifestações de ruas contrárias ao “golpeachment”, bem como protestos reivindicatórios de “Fora, Temer”.
Porém, ao contrário das democráticas manifestações populares da Era Dilma, o que se veem são confrontos entre os manifestantes e o aparato policial, especialmente na Grande São Paulo, região metropolitana do vulgo “Tucanistão” - expressão senso-comum que faz alusão ao domínio dos governos estaduais tucanos há quase 22 anos -, verdadeira “territorialização tucanata”.
Nesta quarta-feira, 31 de agosto, poucas horas após a votação do “golpeachment”, pelo Senado Federal, a Avenida Paulista foi tomada por uma leva de manifestantes. Segundo a Frente Brasil Popular eram 20 mil pessoas, contrárias ao impedimento da presidente. O grupo, inicialmente concentrado em frente ao MASP, manifestava pacificamente num dado momento, decidiu deslocar-se em direção à Praça Roosevelt, passando pela Rua da Consolação, e, nesse trajeto foi disperso com balas de borracha e gás lacrimogênio pelo aparato policial, deixando vários manifestantes feridos.
O ferimento mais chocante acometeu a jovem manifestante Deborah Fabri, 19 anos, que informou nas redes sociais ter perdido a visão do olho esquerdo. Os protestos populares eclodiram em várias cidades brasileiras, a exemplo de Brasília, Caxias do Sul, Porto Alegre e João Pessoa, sendo quase todas marcadas pela repressão da Policia Militar. Um fenômeno que se manifesta em cadeia desde o impedimento de Rousseff.
O povo não cala. Manifestações populares espraiam pelo país. O processo repressivo agudiza. Temer autoriza a ação das forças armadas para reprimir atos na Avenida Paulista, programado para o próximo domingo.
Assim, cada vez mais, fica claro que a repressão promovida pela Polícia Militar aos protestos de rua é uma iniciativa programada para sucumbir às manifestações contrárias ao governo Temer, o que demonstra práticas ideológicas tão comuns aos países antidemocráticos.
A destituição da presidente, Dilma Rousseff, por meio de sutilezas jurídicas não convincentes e a ascensão de um governo que promove um ataque velado aos direitos trabalhistas e aos programas sociais, são eventos que configuram dois golpes: um contra a presidente e outro contra os direitos mais elementares dos trabalhadores. A casa grande esqueceu que isso não foi acordado com a senzala. A senzala já começa a romper os grilhões golpistas plutocráticos, gritando nas ruas dos vários cantos deste país.
A democracia agoniza, a repressão corre solta, a senzala grita e esmurra.... Navegar é preciso, resistir também.
A estrela petralha, Dilma Roussef, brilha como nunca depois da implacável batalha empreendida contra os algozes da democracia...Mas a cadeira da presidência ficou opaca, assim como a democracia...Afinal, o AI-5 já voltou?
Foto: www.ceert.org.br