Atiçaram o formigueiro, Dilma volta, não tem arrego!
Por Consuelo Maria da Consolação Cerqueira
Batidas de panelas, gritos, buzinas vindos da rua! Foi esse o usual ícone do “Fora Dilma”, a recém-apeada do poder. Foi, por uns tempos, a batucada que acompanhava as suas esparsas falas à nação pela TV. A expressão de um povo esnobe, dos da elite ou dos que se consideram tal e que andaram, há tempinhos, sumidos, desde o trágico 17/04. O dia da vergonha nacional e internacional, quando as vísceras do país ficaram expostas. E se não bastasse, envergonhados mais ainda, com a Corja que assaltou o país. Levantar a cabeça pode?
Como panelaços? Dilma!? No segundo seguinte, o clarão. Liguei a TV e corri os canais e, então, deparo-me com o coisa ruim, o Interino, rosnando na comparsa Globo. No trono, como uma majestade. E os sacanas, hipócritas, disfarçados de democratas e civilizados ao pé, em papo de comadres.
Abro, esbaforida, a janela. E, para a minha incredulidade, a barulhada invade a sala: gritos, buzinas, panelaços. “Fora Golpista!” “Bandido!” “Ladrão!” Mas, assim, tão cedo, há quatro dias de Poder? Uma lufada de gozo percorre as espinhas. Saindo do casulo. Pois certo é que, como eu, muita gente, em tempos recentes, quando se postavam em suas varandas aos urros de "Fora Dilma", "Corrupta!" "Bandida!", ficava emudecida, imersa nos seus medos, triste, apavorada, raivosa, recolhida.
Ora, bater panelas virou signo de direita. Vi que aí tinha coisa! Sempre, nesses momentos de expressos analfabetismos políticos, em ato contínuo, cerrava as janelas, munia-me de protetores auriculares e sofria à termo. Verdade que Dilma já agonizava, há tempos, engolida na governança, com essa quadrilha que se instalara no parlamento e, se muito fosse pouco, agarrada às políticas nefastas de Levy e à inércia de Cardozo e, muito pior ainda, deixando seus apoiadores no mais absoluto suspense e agonia, pois em silêncio, por bons tempos. Mas, contrapondo-se a isso, nas redes, sites, blogs, ao contrário, impetrava-se a mais aguerrida luta em defesa da democracia, da permanência do governo e de suas redes de amparo social.
Em sintonia com os interesses da geopolítica americana, dos Mercados, seus financiadores, e, através dos bons informantes, hoje estabelecidos gatunamente no Poder, e com outros tantos com ficha criminal, e usando tática de guerra, ou a pressa dos bandidos no assalto, já no raiar do dia 12/05, assaltam a presidência e começam os bombardeios.
E o país vai assistindo a decapitação de seu Estado e de sua democracia e a imposição de uma agenda conservadora, reacionária, misógina, repleta de retrocessos e ameaças aos direitos dos trabalhadores, à diversidade, eivada de preconceitos de toda ordem. Para espanto até de coxinhas, vão detonando o país. De onde vem essa ousadia e poder? Ministérios e secretarias que protegiam a sociedade civil evaporam-se. E, pasme-se, é ressuscitada a Secretaria de Segurança Institucional, com status de Ministério, da natureza das ditaduras, uma assessoria militar e de segurança. Tem recado: repressão aos movimentos socais, que, desde a radicalização das investidas, incansavelmente, tomaram as ruas, as instituições.
Pois é, nesse domingo, as vaias vieram também de redutos coxinhas, o que nos apontam, junto a outras manifestações recentes, como a dos artistas no importante Festival de Cannes, até para uma possibilidade de execração pública desses salteadores, antes que os financiadores do golpe empanturrem os bolsos com os leilões e façam a festa, pois a farra da privatização está à solta. Ainda bem que há o contraditório na sociedade civil. A politização se faz à medida que avançam nas manifestações. E, junto o PIG, aliados do Golpe, vão caindo em descrédito. Assim a imensa maioria, ainda massacrada pela luta cotidiana da sobrevivência, vai se politizando.
Certo que, na história do Brasil, até antes do surgimento do PT, que nasce das lutas dos trabalhadores, num movimento de baixo para cima, os grandes movimentos sociais e políticos, que o antecederam, ao contrário, vieram de cima para baixo. Essa elite, portanto, com referência de povo bestializado, no dizer de Aristides Lobo quando da proclamação da República ou massa apenas espectadora, indiferente, como corrobora Sérgio Buarque em “As Raízes do Brasil”, não esperava que parte do povo, hoje, midiotizado pelo PIG, seus aliados de Golpe, também pudesse se despertar. Ledo engano.
Acrescente-se a isso os ativistas em abundância nas redes sociais, os dos blogs, dos sites independentes, alternativos, trazendo à tona as verdades ocultas, as notícias, revelando as trapaças, desnudando os nós da política, ampliando e democratizando o debate contínuo de ideias, aí na correlação de força com a grande mídia. E plantando dá. E a condenação do Golpe no mundo e o não reconhecimento desse governo por entidades de trabalhadores e pelos países com relações diplomáticas e comerciais e entidades nacionais e internacionais.
E num crescente de esperança, o povo avança nas ruas e nos atos. E a cada ato as massas estão chegando com seu Fora Temer!
O Fantástico do domingo, com o interino, sem audiência, é prova disso. Ora, se o Brasil sempre foi celeiro de sociedade civil organizada, que tem parte expressiva do povo politizada, com uma população que já vivera a experiência da democracia e milhares experimentaram a proteção social no amparo, no melhor viver, como tolerar retirada de direitos, limitação da liberdade? Surpresas nos esperam mais.
“Pois é, inacreditável constatar que coxinhas e neoliberais que abarrotavam as varandas gourmets de seus prédios para blasfemar “Fora Dilma!”, agora, desses mesmos e de outros ouviremos mais vezes, com certeza "Fora Temer"! Golpistas!
Então, não tem arrego, volta Dilma, volta Lula! À Reforma Política já!