AS DORES DO GOLPE
Por Cristiane Barreto
O golpe desde o princípio tem sido bem doloroso. Num certo período da minha vida eu chorei uns dias seguidos, por um problema aparentemente sem solução. E que atingia direto no peito e eu ia para a cama e chorava, nada de reagir. Não conseguia, doía muito. O tempo passou, andava que nem zumbi e depois disso minhas lágrimas secaram. Aconteceram mais coisas e a dor vinha. Queria chorar e nada de lágrima.
Depois desse golpe, outro golpe. Meu pai adoeceu e veio a falecer, sem necessidade. Na minha cabeça, na minha verdade ao menos. Briguei com a direção do hospital, com médicos, enfermeiros.... Lutei para transferi-lo o mais rápido. Demorou. Chorei, me acabei, só eu achava que tinha jeito. Meu irmão e irmã não.
Quando ele veio a óbito, enxuguei as lágrimas e nunca mais chorei. Não chorei no enterro. Eu fiz de tudo, tentei tudo quando tinha vida. E disse para os meus irmãos, agora, não importa...Terceiro golpe, lutei, briguei com família e amigos, aqui junto com vocês elegemos a Dilma, não foi fácil.
Ficávamos esclarecendo e derrubando mentiras, passamos por tanta coisa... logo após o golpe fiquei doente, inconformada, afastei daqui uns 5 meses. E tudo que vejo vocês sentindo as perdas. Eu já sabia, acompanhei tão de perto que eles disseram tudo que fariam e fizeram.
E estão fazendo como se tivessem direitinho colocado no papel, por escrito, e vão destacando cada item. A dor forte que senti, e ter adoecido foi porque do momento que Dilma foi afastada, para mim acabou. Hoje sinto tristeza, não é estar conformada, anestesiada.
Do mesmo modo como das duas situações na minha vida. O peito parou de doer. Só espero a guerra mesmo. Não tem jeito eleição, eu não queria o golpe, fiz de tudo, fui em todas as manifestações aqui no RJ. Pode me chamar para a guerra, mas perdi a fé na eleição, estou indo na esperança de amigos aqui. Porque minha mesmo eu não tenho.