A FACE EXPLÍCITA DO TERROR
Por Vânia de Farias
O que poderia levar dois jovens aparentemente bem sucedidos a cometer um ato monstruoso desses? Já nasceram psicopatas ou foram perdendo a capacidade de sentir empatia ao longo dos anos?
Aonde iremos parar, se não nos determos para refletir nosso modelo de educação e valores? Será que vão usar como desculpas que imaginavam está assassinando outra coisa? Sim, coisa e não um ser humano. Um objeto talvez, eis que alguns homicidas perversos, anteriormente, atearam fogo em um índio, e tentaram justificar sua hediondez alegando pensar se tratar de um mendigo, isso significa que se fosse mendigo poderia ser assassinado.
Noutro caso, quando 05 jovens espancaram brutalmente uma empregada doméstica, e o caso ganhou notoriedade, quando o pai de um dos jovens que era menor, ao ser chamado a prestar depoimento, respondeu ao delegado que o seu filho, pensava tratar-se de uma prostituta. Significando dizer que é permitido, legal, ou até correto espancar uma prostituta...
Desde quando passaram a ver essas pessoas, não como semelhantes, com direito à dignidade, que eles como nós, temos a obrigação de lhes restituir, e não lhes tirar o pouco que lhes restaram que é a segurança de caminhar e esperar por seu ônibus, na cidade onde reside ou trabalha? Desde quando aprenderam que o outro não é seu igual, apenas porque vivem ou nasceram em condições sociais diferentes, com a cor da pele diferente, com disponibilidade de recursos diferentes.
A médica Anete Guimarães, ao visitar um dos campos de concentração na Alemanha, que não é um dos mais conhecidos e divulgados, mas de singular importância eis que foi onde atuou o Médico Nazista Josef Mengele, um dos mais cruéis e desumanos assassinos da história. Ao discorrer sobre a ciência do mal, Anete Guimarães, nos informa que o mal não tem necessariamente a face ou a aparência do mal, posto que Mengele e tantos outros, tinham uma aparência física normal, e um comportamento de um cavalheiro.
O Cientista, Simon Biram Coham, neto de sobreviventes do campo de concentração de Dachau que foi construído em 1933 pelos nazistas em uma antiga fábrica de pólvora, próxima a cidade de Dachau, em suas pesquisas com o fito de entender a natureza do mal, e tentando adentrar na natureza do mal, no comportamento humano, desenvolveu a curiosidade de conhecer a cara ou o rosto da personificação do mal, principalmente de Mengele, e após assistir ao julgamento de Nuremberg, constatou que nenhuma das enfermeiras, que foram assistentes de Mengele tinha aparência de pessoas más, e até tinham um bom currículo, sem qualquer antecedente criminal, ou atos que as desabonassem, muito pelo contrário, uma das assistentes, havia sido condecorada por seus bons serviços junto a idosos.
Simon Biram Coham, cientista e neurocientista resolveu pesquisar e tentar entender a origem do mal no comportamento humano, e consequentemente a origem da crueldade. O mesmo conseguiu reunir 300 cientistas, envolveu 66 instituições de pesquisas para compilar dados a respeito da maldade no comportamento humano, E a partir da reunião desses estudiosos, apresentou uma teoria, e consequente relatório, designada de ciência do mal.
Após inúmeros testes, Simom e os outros pesquisadores, estabeleceram uma teoria, a partir da descoberta de uma série de estruturas cerebrais e divulgou um relatório chamado A ciência do Mal. Descobriu-se uma área do cérebro, responsável pela capacidade de nos tornarmos homicidas, torturadores ou outros tipos de agressores, o que chamou de sistema empático, e quando temos uma falha neste sistema neurológico, as válvulas de segurança cerebral ou circuito de sistema empático não funcionam de forma adequada, nos tornamos cruéis.
A área especializada no registro de reconhecimento dos humanos, ou área da visão humana, é a responsável pela identificação dos seres humanos, uma outra área é responsável pela identificação das coisas. Outra área que resolveram por determinar de área espelhada, nos torna capazes de nos identificar com os sentimentos dos outros.
Testes foram aplicados nos mais variados tipos de pessoas e principalmente com crianças, chegaram a conclusão que, para se desenvolver a empatia, se faz necessário a observação e o contato com 412 expressões fisionômicas diferentes, em num mínimo, três etnias diferentes, e em dois sexos distintos.
Valendo ilustrar que após algumas experiências, observaram que uma garota norte americana não conseguia identificar as inúmeras expressões de cansaço, dor, saudade, raiva, angústia, em bonecos que não eram de sua etnia, o que incluía a de sua empregada doméstica, de origem latina. E esse grupo de pesquisadores deduziu que pela visão da garota, tratava-se apenas de uma empregada doméstica e não um ser humano como a mesma era, portanto a essa criança, foi ensinada, se intencionalmente ou não, a coisificar outras pessoas que não fossem de sua etnia ou classe social.
A partir de então Philip Zimbardo, cria o programa de alfabetização emocional, ao verificar que estamos a cada dia, nos desanalfabetizando emocionalmente, o que nos leva a atos de crueldade, sem que nasçamos necessariamente psicopatas.
O que levou tantas pessoas, a torturarem, matarem e incinerarem os corpos já mutilados e deformados por luvas de horror, em mãos que deveriam ser de homens, mas que com a promessa de glória efêmera, um carro, ou pelo simples fato da obtenção de satisfação egoica, quando investidos de um poder, lhes outorgado por outros pusilânimes, tanto quanto os mesmos, no período da ditadura militar no Brasil, mais especificamente nos anos de 68, e que hoje tentam se redimir de seus "enganos" alegando que estavam apenas cumprindo ordens, e se converteram a um determinado credo hoje recuperados, perdoados e condutores de ovelhas, (não sei se essas ovelhas um dia serão também incineradas, quando um seu superior ordenar, caso não sigam as regras dogmáticas que hora professam, e pensam acreditar), o que já foi exaustiva e brilhantemente abordado por Hannah Arendt, quando se aprofunda na prática de tirar vidas sob as mais tenebrosas formas, dirigidos apenas pela lealdade aos seus supostos deveres, e aos seus comandantes, tão cruéis quanto eles, os comandados, durante o holocausto na Segunda Grande Guerra, passando esses atos a ser vistos e assumidos, apenas como meros procedimentos burocráticos.
Mas eis que estamos caindo mais e mais desastradamente, quando hoje, o comando vem de nossas mentes ignóbeis e espúrias, que em busca incessante de prazer, matam a outros homens apenas por distração, nos trazendo a memória a citação de Mark Twain "De todos os animais, o homem é o único que é cruel. É o único que inflige dor pelo prazer de fazê-lo."
e por conseguinte, posiciona-se bem abaixo dos irracionais que matam apenas para se alimentarem e o suficiente para tal, ou por instinto de sobrevivência. Quando um indigente, uma prostituta ou um morador de rua, um travesti como Dandara, põem em risco a vida de homens jovens e aparentemente saudáveis, e mais, no presente caso, um estudante do décimo ano de medicina...
Onde está Hipócrates para nos ajudar a entender tal deformidade moral? Estava este jovem se qualificando na tarefa de fazedor de anjos? Este jovem iria decidir quem deveria morrer ou viver, segundo seu atrofiado e mesquinho entendimento? Se tornaria um assassino serial? Acredita mesmo que por ser jovem, relativamente inteligente, pela ótica material, e ter acesso a uma faculdade de medicina o torna superior aos demais, e que por isso pode decidir sobre suas vidas e suas mortes?
Acreditamos que já está na hora de revermos nossos conceitos a respeito de formação, educação e qualificação e que necessitamos urgentemente nos alfabetizar emocionalmente.