A alternativa não pode ser a volta da barbárie
Por Ana Paula Romão (Educadora)
Quando vejo inúmeras postagens reacionárias pedindo "castração química" e/ou "pena de morte" para "resolver" o problema da cultura do estupro, outros, omitindo/negando a contribuição do feminismo, da educação de gênero e das políticas públicas como caminhos a serem trilhados, me dá um desânimo e mais revolta contra a bancada da "Bíblia, do boi e da bala". Esses parlamentares vinham querendo (querem!), a volta da Idade Média, se colocando de forma ofensiva contra a "ideologia de gênero".
Primeiro, que GÊNERO se trata de uma categoria teórica e não de uma "ideologia", pertence ao campo de conhecimentos dos estudos culturais. Segundo, precisamos discutir em nosso currículo esse tema (assim como o etnicorracial), de forma Inter, multidisciplinar e, transversalmente, com o intuito de implementar a educação de gênero na educação básica e nas Licenciaturas.
Isso passa por uma construção teórica e prática formativa (Formação inicial e continuada). Isso não é um problema exclusivo de feminista, de parlamentar ou de "pastor em transe". Trata-se de um conteúdo educacional e que todos/as educadores/as, independente, de sua identidade de gênero, orientação sexual, classe, raça, religião ou ideologia deveria comprometer-se em estudar, refletir, planejar e realizar ações educativas no combate às desigualdades de gênero.
Deve-se primar, pelo respeito às diferenças, quebrando paradigmas centrados na dicotomia "razão masculina" versus "emoção feminina"; "O homem representa a força" e a "mulher é o sexo frágil"; "O corpo masculino representa dominação" e o da "mulher representa subjugação", estigmas que colocam diferenças biológicas como "justificativas" de dominação no campo cultural.
É necessário atuar no campo da prevenção à violência, inclusive e, principalmente, contra a cultura do estupro, fomentada pelo patriarcalismo e alargada através de práticas machistas e misóginas. Que diabos esses reacionários querem agora estabelecer "vingança" como contraponto e, vejo aqui, que encontram ressonância em pessoas e instituições, que não esperava.
A forma de punição deverá ser pelo viés da justiça e evidente que pode se pensar em leis mais duras, mas não na onda do "olho por olho, dente por dente". Quem disse, que se um estuprador for castrado vai deixar de estuprar? Quem está na teia da cultura do estupro é capaz de "incrementar" suas ações violentas penetrativas de outras formas. Desse jeito, a gente volta de vez é para a Barbárie! Precisamos, sim, de mais educação de gênero!
Foto:www.stu.org.br